Em 2008, durante o 1º Festival de Teatro Universitário de Pelotas, os
alunos da primeira turma do curso de Teatro da UFPEL tiveram a oportunidade de
participar da oficina ministrada pela professora Nara Kaiserman, convidada do
Festival. A oficina proporcionou a experimentação de técnicas de improvisação
corporais, apontando possíveis caminhos para o processo de criação do ator. Em
agosto de 2011, novamente Nara Kaiserman, que é professora da Escola de Teatro
da UNIRIO, esteve em Pelotas a convite do curso de Teatro, dessa vez, para o
primeiro encontro do Ciclo de Palestras do PIBID – Área de Teatro.
Durante o encontro, Nara compartilhou, com os alunos presentes, um pouco
do processo de pesquisa realizada por ela em Portugal, junto a CIA DO CHAPITÔ,
grupo teatral de Lisboa que trabalha com o Teatro Físico. Nara, que acompanhou
de perto ensaios da CIA, conta que o processo de criação do grupo se dá a
partir de personagens surgidos de improvisações. Através da utilização de
figurinos e acessórios, inclusive de maneira extra-cotidiana, o jogo
improvisacional é feito basicamente entre atores, diretor e objetos cênicos. O
grupo privilegia a utilização do “pensamento” físico-corporal para dar vida a
personagens e narrativas. Nara fala sobre a riqueza da motivação dessa natureza,
utilizada no Teatro Físico, para o processo criativo do ator, para muito além
de motivações psicológicas.
Nara abordou a relação do Teatro Físico com Meyerhold e a Biomecânica. Diz que uma das premissas do Teatro
Físico é o desenvolvimento da capacidade autoral do ator, a capacidade de
construir composições corporais próprias para seus personagens. Lembra que essa
questão foi levantada primeiramente por Meyerhold, quando falava sobre a necessidade
do ator ser um operário e quando
falava em trabalho no teatro, referindo-se
ao trabalho físico do ator.
Diz que Meyerhold também foi o
primeiro a falar sobre a relação com o espectador e que pretendia alcançar o
espectador pela corporeidade, assim como o Teatro Físico. Ela fala que a
descoberta do ritmo dos movimentos a partir da biomecânica é uma premissa do
Teatro Físico, que os estudos da biomecância criaram as condições necessárias
para o surgimento do Teatro Físico. Ela vê em Meyerhold, uma atualidade pouco
reconhecida lembrando que ele foi também foi o primeiro a falar sobre atores
que sabem mexer o corpo, mas não sabem pensar.
Tratando dessa corporeidade essencial para o Teatro Físico, Nara citou
alguns autores que pesquisaram o corpo e o movimento. Autores que influenciaram
a evolução do trabalho físico do ator. Nara cita Étienne Decroux, considerado o
pai da mímica moderna, como uma grande influência do Teatro Físico. Fala ainda sobre a influência de Delsarte, um
dos precursores da dança moderna através da relação que ele estabelece entre corpo
e alma, onde a dança passa a ser guiada pela alma, menos racional e mais
instintiva. Cita Laban, falando sobre os passos que propõe para anteceder o
movimento: ATENÇÃO, DECISÃO, INTENÇÃO E CONTATO. Aqui Nara sugere que os alunos
pesquisem sobre Educação Somática, que propõe essa aproximação entre o Pensar e
o Agir, onde Agir é Pensar. A educação somática diminui a distância entre uma
coisa e outra, anula-as, entendendo que as duas se dão simultaneamente.
Falou também sobre o conceito de corpo dilatado, presente em Eugênio
Barba: “o corpo dilatado é a pele dilatada, a pele que se desfaz, mesmo que a
certa distância do outro ator, nossa voz, nossa pele, chega lá no outro”. Aqui
também citou o filósofo e ensaísta português, José Gil, que trata sobre o corpo
e o espaço, movimentos, agenciamentos, para dizer “quando a pele do ator se
espalha no espaço é que o ator ocupa o espaço”.
No encontro com a Nara, apontaram-se caminhos para o
trabalho do ator compositor, assim como propôs Meyerhold– o ator operário, na
exploração de um Teatro mais corpóreo, mais próximo do Teatro Físico. E também caminhos
pedagógicos para os futuros professores de Teatro, através da lógica que a Educação
Somática propõe, trabalhando com o pensamento físico-corporal misturado ao
mental, rompendo com a separação entre corpo e mente. Assim Nara produziu
agenciamentos nos nossos desejos de vivenciar mais um encontro prático com ela,
como em 2008. Ficando aqui então a sugestão para uma próxima oportunidade de
tê-la aqui em Pelotas.
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