Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Síntese do Artigo "Empilhando Carteiras à Procura de um Espaço Vazio"

"Empilhando Carteiras à Procura de um Espaço Vazio"
Profª. Drª. Márcia Strazzacappa – UNICAMP



Síntese:

A autora questiona em seu texto qual é o espaço dado às aulas de dança e teatro nas escolas e, a alteração das leis de ensino que as tornam disciplinas obrigatórias, não levando em consideração as características de cada região.

Strazzacappa reflete sobre as aulas de artes que são ainda voltadas apenas às artes plásticas e ministradas por professores que ainda desconhecem a real dimensão das demais linguagens artísticas. Para alguns, a aula de artes, ainda é sinônimo de aulas de desenho. Faltam professores preparados para essas atividades, espaço adequado e formação especializada.

Pensando na diferença entre informação X formação, em que a informação existe, mas a formação nem sempre, as leis e as áreas de conhecimento são citadas e conhecidas (informação) e, no entanto, nem sempre são aplicadas (falta de formação).

As aulas de arte permanecem sendo aplicadas calcadas nas artes plásticas que possuem professores especializados na área. Algumas escolas já possuem professores de música também. No entanto, a autora questiona a utilização do corpo apenas nas aulas de Educação Física. Aponta ainda, o fato de que muitas vezes a dança, o teatro e a música são usados apenas como ferramenta para trabalhar conteúdos específicos de outras disciplinas, como história ou língua portuguesa, por exemplo, ou em eventos escolares, como nas quadrilhas das festas juninas.

Em sua pesquisa, Strazzacappa resolve desenvolver um trabalho em que professores, gestores e funcionários tivessem que passar por momentos de ensino de artes em sala de aula. No seu ponto de vista seria interessante que professores passassem pelos mesmos processos que os alunos em sala de aula. Sentindo os pés no chão e no espaço livre e adequado para a movimentação, a expressão corporal e a criação. Sua intenção era auxiliar na busca por um espaço digno de ensino de artes. Pensando nisso, cria disciplinas em três cursos, dois de graduação em pedagogia e um de especialização em gestão escolar, trabalhando com futuros professores e gestores. Fazendo-os colocar os pés no chão e trabalhar o corpo em salas de aula preparadas para esse tipo de trabalho na Unicamp. Com isto, fez-se compreender a necessidade de um espaço apropriado para este tipo de trabalho e sentiu-se a necessidade de estrutura física nas escolas para acolher estas disciplinas que necessitam de espaços amplos e sem carteiras para que se possam explorar os movimentos corporais. Strazzacappa ainda termina seu texto com a seguinte questão: Até quando para se trabalhar com o corpo ainda tem-se que limpar salas, remover os móveis ou mesmo dividir a quadra com as aulas de educação física?

Os trabalhos com essas disciplinas ainda são oferecidos para gestores de escolas da rede pública de ensino de Campinas. É com este pequeno gesto e a partir destas vivências que ela acredita começar a mudança.


Comentários:

Com a leitura do texto percebo que o problema da falta de espaço para os trabalhos de teatro é muito maior do que a realidade de mundo à qual temos acesso. É uma realidade em várias regiões do país, provavelmente em todas. A busca pelo espaço de ensino de teatro, e também da dança, é uma luta de educadores dessas áreas que já vem de longa data. Como citado, não adianta as leis serem construídas e não existir um estudo de caso de cada lugar, da necessidade e da disponibilidade de cada região e de cada escola.

Infelizmente creio que a maioria das escolas do Brasil ainda não está preparada para tais mudanças. Pelo contato que tive com algumas escolas de Pelotas, e pelo que já conversei com colegas de outras cidades, sabemos que não há nem espaço físico adequado, nem profissionais preparados para as especificidades destas disciplinas atuando nas escolas. Em muitos casos não há sequer tempo para estas atividades, visto que ainda não tivemos uma reforma curricular a contento de todos. Vemos nas grades curriculares geralmente um único período dedicado a artes por semana, sendo assim: Como poderemos trabalhar teatro, dança, música e artes plásticas?

Creio que seja esse um dos motivos pelos quais as escolas ainda não aderiram à lei - promulgação da LDB9394/96 - que prevê o ensino de arte como componente obrigatório na educação básica. E tampouco à publicação dos PCN’s Arte, de 1997 que prevê o ensino das artes com suas quatro áreas no currículo. Concordo com Strazacappa no que ela se refere à falta de fiscalização. Como se pode impor uma lei de ensino para locais onde não existem condições para este ensino?

Há escolas que sequer possuem um número adequado de professores para suprir as demandas e que possuem quadro de funcionários deficiente. Como trabalhar nestes espaços sem sofrer com os problemas acarretados por estas deficiências? Há salas que para receber uma aula de teatro ou dança necessitam antes passar por uma reorganização, retirando-se classes e cadeiras, ou mesmo empurrando-as contra a parede, o que torna perigoso o trabalho corporal, principalmente com crianças. Há, ainda, salas com pisos inadequados e sujos, ou mesmo aulas que ocorrem em espaços como o da biblioteca, do refeitório ou da quadra de esportes.

Tenho meus questionamentos sobre o nosso trabalho em sala de aula nessas condições. O que, na verdade é mais importante? O ensino das quatro áreas das artes, ou um ensino de artes de qualidade? Pois dar uma aula em um espaço improvisado, ou inadequado compromete a qualidade da aula. Seria válido ter um ensino assim, sem a garantia da sua qualidade, sem as mínimas condições? Ou deveríamos lutar pela qualidade de ensino e só realizar nossas atividades quando tivermos lugares apropriados para isto?

O que vemos na realidade são aulas de artes que têm um único período de 45 ou 50 minutos por semana para se aplicar teatro, dança, música e artes visuais. Muitas vezes numa sala de aula com classes, cadeiras, piso inadequado para atividades no chão, ou sujo. Para dar uma aula de teatro ou dança levamos algum tempo apenas organizando espaço para começar, e devemos acabar a aula com tempo para reorganizar o espaço para a próxima aula de outra disciplina. Uma aula semanal com duração de 30 minutos, ou menos, será realmente satisfatória em termos de tempo, espaço e qualidade de ensino? Penso que é neste ponto que devemos investir nossa luta, para garantir espaços adequados e profissionais capacitados. Contratar professores para as áreas específicas e pensar em espaços próprios para o ensino de artes nas escolas é o mínimo que precisa ser feito. De nada adianta dizer que se tem aula de teatro e dança se as mesmas são oferecidas em espaços ainda precários e com isso não proporcionam ao aluno todo o conhecimento que poderiam.

Sei que isto é uma questão ainda muito complexa e delicada e que já estamos ganhando um espaço, ainda que pequeno. Mas sim, acredito que devemos aproveitá-lo ao máximo, investindo nesses pequenos momentos que já temos em algumas escolas, mesmo que em turnos inversos, em locais ainda impróprios. Acredito que, aos poucos, conquistemos mais espaço na escola e assim, um dia, as aulas de teatro, de dança e de música terão o mesmo peso e reconhecimento que as aulas de artes visuais, história, língua portuguesa e demais disciplinas.
 
Por Aline Luz


Referência:

Artigo publicado nos anais do V Congresso Abrace, 2008. Disponível no site Memória Abrace – Congressos – GT Pedagogia do Teatro e Teatro na Educação. Acesso em: 05/08/2012 no link:

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