No início de outubro participei de um Festival de
Contadores de História em Porto Alegre. O Festival é uma promoção da Biblioteca
Infanto-juvenil Lucília Minssen, da Casa de Cultura Mário Quintana de Porto Alegre.
Foram três dias maravilhosos de aprendizagem, conhecimento, troca e convivência
com contadores de histórias do Brasil inteiro.
Durante o festival, além das Maratonas de Contação de
histórias infantis e a Maratona de Contos Populares, a organização disponibilizou
em sua programação oficinas variadas de técnicas de contação, de confecção e
manuseio de objetos, de musicalização, dentre outras. Visando aproveitar ao
máximo os oficineiros e buscando embasamento e conhecimento, participei de
quatro das nove oficinas, que foram: “A Contação de História como Espetáculo”,
ministrada por Hermes Bernardi Jr., de Porto Alegre; “História é prá contar”,
ministrada por Maria Eunice G. Barbieri (Marô Barbieri), de Porto Alegre;
“Contando Histórias: A arte de criar narradores e personagens”; ministrada por
Lívia Petry, de Porto Alegre; e por último “Contar com o outro: uma história
para dois”, ministrada por Celso Sisto, também de Porto Alegre. Além das
oficinas, participei das duas noites de Contos Populares e de uma maratona de
contadores na manhã em que Grazi e eu contamos uma história também.
Das oficinas que participei, todas abordavam especificamente o trabalho de contação de história. A
partir de várias formas e técnicas os oficineiros nos passaram diversas dicas de
como contar, como buscar a atenção do público, principalmente se trabalhamos
com o público infantil. Na oficina do Hermes, por exemplo, realizamos mais um
debate do que trabalho prático, baseado na nossa conversa e nos nossos
questionamentos sobre como agir e usando como exemplo três ou quatro pequenos
trechos contados por alguns dos participantes, baseado nas formas de contar
apresentadas por eles, o oficineiro nos passou
algumas dicas, dentre elas: ter o domínio da história, não perder o contato
visual com o público, não hesitar ao contar uma história, a busca pela limpeza
nos gestos e no posicionamento no ‘palco’, a base, os pés firmes no chão, coisas
importantes. Sobre a utilização de objetos quando necessário, foi dito que eles
não devem ilustrar a história, pois não devemos subestimar a imaginação do
público sublinhando tudo o que vamos contando.
Na oficina da Marô, fizemos exercícios práticos mesmo.
Exercícios de dicção com trava línguas, leitura de texto em grupo, uma pequena
análise e divisão de um texto. Na sequência aprendemos a confeccionar uma
pequena bruxa utilizando canudinhos de refrigerante, guardanapo e fita crepe,
um objeto simples que pode inclusive ser utilizado depois da contação como uma
atividade com as crianças. Na sequência, nos dividimos em grupos e com essas
bruxas e com alguns outros personagens e elementos trazidos pela oficineira deveríamos
construir uma história e contá-la. Foi interessante a maneira como ela conduziu
e como nós ao final já estávamos bem mais soltos brincando entre nós e com os
objetos e personagens que criamos nas histórias.
A Lívia nos trouxe vários exercícios para trabalhar
questões simples de diferenciação de narradores e personagens. Vários desses
exercícios já são conhecidos de quem trabalha com teatro, começamos criando uma
história em conjunto, com uma “bolinha faladora”, num círculo a bolinha passa
de mão em mão, e onde ela pára a pessoa acrescenta uma parte da história, assim
vai até que todos tenham participado. Os demais exercícios versaram sobre trabalhos
de improvisação e de jogo. Criamos personagens, inventamos uma história com
eles e depois a encenamos. Utilizamos ainda ‘dedoches’ (pequenos fantoches
manipulados apenas pelos dedos) e também em grupos criamos uma história e a
apresentamos para o grande grupo. Encerramos com a leitura/narração de uma
história trazida pela Lívia, “Encontro em Samarra” na história havia três
personagens, a Morte, um Mercador, e o Servo deste Mercador, o jogo consistiu
em realizar essa leitura/contação a partir do ponto de vista de um desses
personagens, sem a presença de um narrador e sim de um personagem narrador.
Para encerrar a maratona de oficinas tive o prazer de
conhecer Celso Sisto, que de uma forma muito simples nos conduziu a um estado
de jogo, de concentração e de ligação entre os participantes da oficina, formei
dupla com uma moça, que mesmo sem conhecê-la, era como se tivesse sempre
trabalhado ela. Também baseado em alguns exercícios que usamos em ensaios e
aulas de teatro, trabalhamos alguns pontos como confiança e interação com e
entre as duplas. Trabalhamos o tempo todo com a mesma dupla para construir essa
ligação e essa intimidade. O foco da oficina foi a contação de uma história em
dupla, para isso conversamos sobre o que uma contação em dupla deveria ter,
alguns pontos foram: a relação entre os contadores, o domínio da história, uma
análise da história, o jogo e a espontaneidade, dentre outros. Após essa
conversa e essa lista de objetivos, escolhemos um livro de história dentre os
que ele havia levado e nos preparamos para contá-la em dupla. Foi sem dúvida
uma experiência muito enriquecedora, pois tínhamos pouco tempo para ler,
analisar, discutir, decorar a história, ensaiar e apresentar, tudo em dupla,
sem atropelar o colega em nada, nem nas decisões nem na contação, sem
interferir no texto da colega, sem contar tudo sozinha, foi uma coisa difícil,
mas muito prazerosa. Trabalhar essas possibilidades de narrativa intercalada,
onde cada uma de nós contava um pouquinho do que ia acontecendo e perceber ao
final que nós conseguimos alcançar o objetivo foi muito bom, pois partilhamos a
história e repartimos ela, contamos juntas e não um pedaço cada uma.
Além das oficinas,
participamos das maratonas de Contos Populares e de apenas uma manhã de
contação para as crianças, queria ter visto mais gente contando história. Nas
duas noites de Contos Populares, vimos alguns dos oficineiros e dos contadores
de história que participavam do festival contando histórias de caráter mais
regional, alguns deles mais voltados ao público adulto, mas de uma riqueza sem
tamanho. Na nossa prática de contação, senti falta de público, tínhamos poucas
crianças na platéia e já eram maiores um pouco, pareciam não estar muito
envolvidos com a história, contamos “Minha mãe é um problema”, de Babete Cole.
Mas de uma maneira geral, foi ótimo interagir com eles, contar história, e
ainda ver como os outros contadores trabalham, como eles contam suas histórias,
que recursos utilizam para envolver os ouvintes, sem dúvida foram três dias de
muito aprendizado, muita troca de experiência, de conhecimento, sem contar nos
amigos maravilhosos que fiz, das pessoas generosas que encontrei, muito
dispostas e disponíveis a ensinar, a aprender e a partilhar.
Aline Luz
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