Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Brecht Estava em Montenegro

Participar de um encontro de Artistas e Arte-educadores como o que participei de 04 a 07 de Setembro deste ano na cidade de Montenegro no Rio Grande do Sul, torna gratificante todos os esforços feitos na longa caminhada de uma boa formação em um curso de Teatro. Todos sabem que a formação de um ator e/ou arte-educador não acorre apenas em sala de aula, pois se engana quem pensa que a superficialidade, devido ao pouco tempo que se tem para um aprofundamento de conteúdos, dos assuntos abordados em sala de aula possa formar solidamente um profissional capacitado para exercer profissões tão delicadas quanto estas. Estar em Montenegro e poder “trocar” experiências tão valorosas com pessoas que tem como finalidade um melhor e dedicado exercício da profissão se torna parte fundamental para a formação acadêmica de um ator e futuro arte-educador.
Fui para esse encontro com duas tarefas bem importantes e delicadas, uma delas representar o PIBID, Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência, subsidiado pela CAPES e pelo qual sou bolsista, e outro de apresentar possíveis pensamentos sobre a inserção das ideias de Bertolt Brecht na formação de alunos do ensino médio e fundamental nas nossas escolas. Com o título “Qual a Função Pedagógica do Teatro Nesse Início de Século nas Escolas de Ensino Fundamental e Médio: Uma Proposta em Beltolt Brecht”, e dividindo esse trabalho de forma gratificante e honrosa com minha colega Tainara Urrutia, me atenho a falar um pouco sobre essa experiência.
Ao chegar à cidade de Montenegro e ainda um pouco tenso com a apresentação do trabalho, fui participando das outras atividades previstas no evento de forma inteira e intensa, pois não teria porque me deslocar de Pelotas a fim de uma experiência superficial. Eu estava muito empolgado e feliz de estar no meio de muita “gente de teatro” e de poder falar “a nossa língua”, a língua da arte. Não me detendo muito em outros fatos para não me estender demais, chego ao dia da tal apresentação. Eu e minha colega fomos os penúltimos a apresentar. A presença de alguns colegas do curso foi de importância fundamental para aumentar a nossa segurança e encarar o fato de discutir assuntos pertinentes a todos os participantes do evento. Acredito ter contado com algo que não sei explicar bem ao certo, ao começar a falar sobre os problemas da educação e principalmente da arte-educação nos tempos atuais, percebemos, eu e minha colega, uma profunda atenção dos participantes aquilo que estávamos apresentando. Confesso que de início me deu um frio na barriga, mas fomos em frente, a final, sabíamos exatamente aquilo que queríamos provocar com o nosso discurso sobre as propostas pedagógicas de Brecht, e, além disso, suscitar a curiosidade dos participantes acerca do que não seria didático na obra do autor, poeta, pesquisador e pedagogo Alemão. Por fim, estávamos na metade da nossa fala, quando a moderadora da mesa nos disse que tínhamos apenas mais cinco minutos, e tudo aquilo que parecia que iria durar uma vida passou em questão de segundos. Ao final da nossa apresentação, várias pessoas estavam cheias de dúvidas e questionamentos acerca do que tínhamos exposto e o debate que geralmente durava apenas dez minutos, para a nossa surpresa e espanto, acabou se transformando em vinte. Muitos professores já experientes e atuantes no mercado de trabalho fizeram colaborações valiosíssimas para a nossa pesquisa e tivemos uma troca que acredito ter sido ímpar na nossa formação. Além dos nossos sorrisos que não cabiam no nosso rosto, ainda fomos brindados com uma frase da moderadora da mesa que jamais sairá da minha cabeça, “Vocês nos trouxeram Brecht e olha quanta provação e reflexão vocês causaram aqui”.
Essa participação no 22º Seminário de Arte e Educação de Montenegro mostra que ainda existem pessoas que estão inseridas na arte, e ressalto aqui no Teatro, e que pronunciam a palavra que acho fundamental para ser dita em qualquer situação de aprendizado e demonstração artística, “Pensar”, tanto no âmbito da educação como no da arte, “Pensar”, quebrar toda e qualquer ideia de cópia de pensamentos e desenvolver nos professores e alunos a possibilidade de questionar, para que assim se possa modificar o estado deplorável que se encontra o ensino nas escolas e principalmente nas escolas públicas e de periferia, e assim nos tornemos cidadãos pensantes e transformadores. Encontrar com alunos engajados e não entregues ao comodismo, como se vê na grande maioria dos alunos de alguns cursos de teatro, prontos para enfrentar a dura realidade e não se entregar ao sistema desmotivador e desvalorizador que se encontra o sistema de ensino, nos da coragem para seguir em frente e fortes, convictos.
Em fim, levar essa personalidade tão provocadora, que nos causa inquietações e suscita em nós atitudes de mudança sempre nos colocando em uma situação limite como Brecht, se fez necessário para satisfazer minha sede e vontade de transformação e seriedade com o ensino. Acredito que a profissão de ator seja importante e de grande responsabilidade, mas a de professor é milhões de vezes maior ainda. O professor tem nas mãos a possibilidade da real formação e transformação de cidadãos muitas vezes colocados em situação de opressão, e, portanto, não pode pensar seu ofício como mero momento somente de lazer, recreação e ludicidade. Já dizia Bertolt Brecht que “O teatro pode sim ser entretenimento, mas não só”. Estar em Montenegro e assistir a tudo que foi visto naquele seminário, me leva a crer que em forma de pensamento, de mudança e de reflexão que Brecht nunca esteve tão presente na minha vida como neste seminário.
Hélcio Fernandes

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