Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

EDUCAÇÃO: DA RAZÃO E DO SENSÍVEL

EDUCAÇÃO: DA RAZÃO E DO SENSÍVEL

JULIANA CAROLINE DA SILVA ¹, GRÉGORI RODRIGUES ECKERT²; MAICKOL
BESSA DILELIO³; MARIA AMÉLIA GIMMLER NETTO 4.

¹ Universidade Federal de Pelotas – julianacarolines@hotmail.com
²Universidade Federal de Pelotas – gregorieckert@hotmail.com
³Universidade Federal de Pelotas – mrmikebd@gmail.com
4 Universidade Federal de Pelotas – mamelianetto@gmail.com


1. INTRODUÇÃO

      A aproximação entre as equipes das áreas de filosofia e de teatro do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à docência (PIBID) no semestre 2015/1 proporcionou aos estudantes de ambas as áreas uma vivência integrada baseada na troca de conhecimentos e de olhares diferentes sobre o ensino em conformidade com o referencial teórico e com os modos de trabalho de cada grupo. O estudo do texto A educação entre o coração e a razão ( HUMBOLDT, 2012) serviu de ponto de partida para essa comunhão de experiências voltadas à temática da razão e da sensibilidade. O intercâmbio de aprendizado entre as duas áreas de conhecimento foi realizado em duas etapas, uma aula ministrada pelos alunos da filosofia, e a outra, com uma oficina do teatro voltada aos sentidos do corpo.
      As ponderações deste trabalho se referem, principalmente a este segundo momento, que foi um encontro prático conduzido pelos pibidianos do teatro. A partir deste evento surgiu a seguinte questão: como desenvolver processos de aprendizagem que tenham por base a educação dos sentidos e da sensibilidade? As observações e reflexões a seguir serão apresentadas por estudantes licenciandos e futuros professores de teatro que participaram do referido processo. T al pensamento repercutirá em questões voltadas ao reconhecimento da educação da sensibilidade para a formação de professores e para a prática docente.


2. METODOLOGIA

      A experiência foi realizada em dois momentos: um primeiro momento em que os estudantes do Curso de Filosofia, coordenados pelo professor Keberson Bresolin, ministraram uma aula teórica para os pibidianos do Curso de Teatro; um segundo momento em que se realizou uma oficina prática aplicada pelos estudantes do Teatro, coordenados pela professora Maria Amélia Gimmler Netto, aos pibidianos da Filosofia.
      Partindo “do ponto de vista que a razão humana é dirigida essencialmente por emoções e está ‘embutida’ no corpo” (DOWNSON, 2012 p.8), o primeiro encontro, abrangeu conceitos de filósofos a respeito da relação sentimento versus razão. Neste momento, os bolsistas do teatro participaram como alunos ouvintes e, ao final das apresentações dos estudantes da filosofia sobre os teóricos selecionados por eles e seus respectivos posicionamentos acerca do tema, foi aberto um momento de discussão para retirada de dúvidas.
    Após, num segundo momento, foi realizada a oficina “Sentidos: sentindo o corpo docente” executada pelos bolsistas do teatro. Cabe ressaltar que os estudantes pibidianos autores do presente texto não integravam o grupo no momento da criação da oficina. Ao se tornarem integrantes da equipe eles foram agregados como monitores, ou seja, como professores auxiliares no andamento prático da oficina.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

     De Platão e Hume à Nietzsche e Spinoza, os pibidianos da filosofia desenvolveram a apresentação de concepções filosóficas acerca da relação mente e corpo, além de relatarem suas próprias percepções do tema, suas divergências e questões ainda não resolvidas formuladas pela inquietação do sensível sobre a razão, como a crença num ser superior ou até mesmo a superioridade da sensibilidade da alma que pode conduzir o corpo e influenciar o sujeito na escolha de suas atitudes. Deste momento, podemos ressaltar o surgimento de novas compreensões a respeito dos argumentos de cada filósofo apresentado, principalmente pelo fato do não conhecimento teórico de muitas relações ali introduzidas para o grupo de estudantes do teatro.
      Seguindo a ideia de Hutcheson, de agregar uma moral junto às emoções, em dar “atenção a suas manifestações, seguindo as boas e combatendo as nefastas, mas em todo caso: trabalhar nelas e com elas” (DOWNSON, 2012 p.8), ambos os grupos refletiram sobre a seguinte inquietação: como educar o coração? De onde partir para alcançar uma sensibilidade própria do ser humano, que foi se desfazendo no decorrer da valorização da razão, do reconhecimento da lógica acima do sentimento e da não valorização de questões estéticas?
      A oficina teatral ministrada foi planejada no ano de 2014 como ação de área da equipe do PIBID Teatro. Esta oficina, que foi inicialmente criada para ser direcionada aos bolsistas de iniciação à docência de todas as áreas envolvidas ao PIBID UFPEL, fundamentou-se em um ciclo de estudos baseado nas seguintes obras: ALVES (2005) em Educação dos sentidos , DUARTE JR (2010) em A montanha e o videogame: escritos sobre a educação , e BOAL (2002) em Jogos para atores e não atores. O seu objetivo geral é o de despertar os sentidos do corpo através de ações, jogos e improvisações para proporcionar nos participantes um elevado grau de sensibilidade e percepção corporal. Essa oficina, criada no ano de 2014 pelo grupo de pibidianos do teatro encaixou-se perfeitamente com o contexto do encontro promovido entre os dois Cursos universitários já citados.
       Partindo de um primeiro momento na oficina dos pibidianos do teatro foi realizado um exercício simples mas eficaz em que se movimentava uma bolinha que mediava o contato dos pés com o chão, massageando-os, despertando o corpo e preparando-o para os exercícios seguintes. É relevante destacar que, para os pibidianos da filosofia o ato de tirar os sapatos e ficar com os pés descalços em contato com o chão, principiou uma desconstrução dentro dos padrões da rotina destes estudantes, estabelecendo o prelúdio para as integrações corporais em que o grupo ingressaria adiante.
     Com um número significativo de alunos, o grupo dividiu-se em dois subgrupos, um com a participação da coordenadora do teatro e outro com a do coordenador da filosofia e a professora supervisora da equipe, ambos seriam guiados, em seguida, pelos bolsistas do teatro que estavam presentes no planejamento da oficina, com o auxílio dos novos integrantes, atuando como monitores. Dentro destes subgrupos foram realizadas as demais atividades com o objetivo específico de integrar a equipe, ampliar a espontaneidade, criatividade e ludicidade dos participantes, criar cenas a partir da improvisação e, fruir e refletir sobre cenas criadas.
      No decorrer da oficina, a timidez da turma da filosofia se dissolveu e, apesar de uma maioria continuar introvertida, observouse que muitos se identificaram com a figura dos coordenadores e da professora supervisora também envoltos nas atividades e, aos poucos, se viram participando corporalmente e apreciando a experiência.
      Visando as formas de conduções dos ministrantes da oficina que, apesar de utilizarem a mesma metodologia aplicaram-na de formas diferentes, pode-se ressaltar o significativo meio utilizado de expôr os propósitos de cada atividade individualmente e a importância destas no contexto da oficina, com o objetivo de situar o grupo da filosofia à experiência inédita. Por conseqüência, os participantes foram compreendendo a relevância de trabalhar os sentidos para alcançar a educação do sensível.
      Rubem Alves fundamenta que “o corpo carrega duas caixas. Na mão direita, mão da destreza e do trabalho, ele leva uma caixa de ferramentas. E na mão esquerda, mão do coração, ele leva uma caixa de brinquedos” (ALVES, 2005 p. 9), sendo as ferramentas meios para se viver, melhorando o corpo e dando força ao homem, com utilidades e para oferecer poder; e os brinquedos, ao contrário, sendo as coisas inúteis, que não têm alguma utilidade mas são para serem desfrutadas. Concominante com o pensamento de que, atualmente todos são “educados para a obtenção do conhecimento inteligível (abstrato, genérico e cerebral) e deseducados no que tange ao saber sensível (concreto, particular, corporal)” (DUARTE, 2010 p. 26), testemunhou-se durante a experimentação da oficina, que os participantes constatassem uma realidade que carece da educação dos sentidos e que precisa trabalhar a caixa de brinquedos além da caixa de ferramentas, para alcançar a sensibilidade na educação, além de compreender a relevância de trabalhar os sentidos para alcançar a educação do sensível e perceber o valor que esta pode acarretar à elaboração do conhecimento na educação e vida dos alunos.
      Boal teoriza que “os exercícios visam a um melhor conhecimento do corpo, seus mecanismos, suas atrofias, suas hipertrofias, sua capacidade de recuperação, reestruturação, re-harmonização” (BOAL, 2002 p. 87), seguindo este pensamento, os exercícios aplicados na oficina, alguns retirados do livro 200 jogos para atores e não atores (BOAL, 2002), propuseram uma educação da sensibilidade do docente e da sua relação com o grupo presente, o qual era distante a princípio, porém que dissolveu-se a partir dos exercícios junto à uma reflexão física, uma percepção melhor do próprio corpo. Ao trabalhar o interior, o corpo, o “eu”, a relação interpessoal tornou-se orgânica e, portanto, sensível.


4. CONCLUSÕES

     O processo de iniciação à docência nas universidades é, muitas vezes, desprovido de “um lugar para promover o equilíbrio e a integração entre o inteligível e o sensível” (DUARTE, 2010 p.48), assim, legitima-se o processo da oficina relatada como um meio para se despertar os licenciandos à importância da educação do sensível. Tendo em vista uma condução que envolva os integrantes e mantenha o envolvimento corporal destes, a didática aplicada na oficina, baseada em “fruir, usufruir, desfrutar, amar uma coisa por causa dela mesma” (ALVES, 2005 p.14), orienta futuros docentes a desfrutar dos diversos recursos que o corpo compreende, além de considerar o aprendizado através dos sentidos e, valorizá-lo.
      Distinguindo aspectos negativos, como a insistência na participação de todos os integrantes sendo que alguns não se desapegaram da timidez, ou não estavam interessados pessoalmente na proposta; dos aspectos positivos, como a notável sagácia nos direcionamentos da oficina, além da importância proveitosa dada por cada ministrante a ouvir os participantes, a abrir discussões que seriam interrompidas em seguida pela falta de tempo, mas que deveriam ser refletidas em maior profundidade naquele momento efêmero, dito que “todo mundo quer ser escutado” (ALVES, 2005 p.29) e o ato de ouvir também é alcançado com a educação do sensível. Pode-se afirmar que os futuros docentes precisarão perguntar a si mesmos se o que irão ensinar aos seus estudantes é uma ferramenta que aumenta a competência de seus alunos sem ocupar o lugar das ações tidas como inúteis, mas que proporcionam prazer.
      Quanto a vivência dos pibidianos do teatro que auxiliaram na oficina, salienta-se o aprendizado e as experiências práticas adquiridas, comparando a relação ministrante-participante com a relação professor-aluno, além da apropriação da importância de educar os sentidos. Ao analisar e considerar a postura dos ministrantes da oficina, poderseá realizar uma prática futura com mais sensibilidade, valorizando a formação e o conhecimento por meio da educação do sensível.


5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALDWORTH, S. Como educar o coração. HUMBOLDT, Goetheinstitut, p.1013, 2012. Traduzido por: Simone de Melo.

ALVES, R. Educação dos sentidos. Campinas: Verus Editora, 2005. 

BOAL, A. 200 Jogos para atores e não atores. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2002.

DOWSON, K. Meu cérebro sente?. H UMBOLDT, Goetheinstitut, p.69, 2012. Traduzido por: Matthias Kross.

DUARTE JR, J. F. A montanha e o videogame: escritos sobre educação. Campinas: Papirus Editora, 2010.

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