Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Resumos bolsista Marcos Kuszner

A EDUCAÇÃO (DO) SENSÍVEL E O MUNDO CONTEMPORÂNEO
Encontramo-nos em uma sociedade que está numa linha tênue entre a civilização e a barbárie instrumentalizada pela primeira. Como mecanismo de defesa em meio ao modelo de vida que temos, acabamos nos tornando insensíveis. Pode-se inferir que desde a modernidade, quando o conhecimento puramente científico se evidenciou, não se preocupou com o saber sensível e isso causou uma regressão significativa da sensibilidade. Existe uma educação unicamente para a obtenção do conhecimento inteligível e uma negligência no que tange ao saber sensível (concreto, particular e corporal).
A deseducação do sensível tomou proporções tão grandes que se reflete na arquitetura das cidades. Os prédios e casas agora podem ser entendidos como “máquinas de morar”, um ambiente unicamente funcional. Com tais mudanças, alguns hábitos como o de passear ou simplesmente sentar-se à sacada e conversar com os vizinhos foram se perdendo, diminuído a quantidade e a qualidade das relações entre as pessoas.
No âmbito da educação, esse sentido prático do viver dispensa um educador e prefere um professor que simplesmente exerça uma função que possa ser enquadrada no sistema de ensino. A arte-educação sempre veio no sentido contrário desse movimento pragmático, porém nos últimos tempos verifica-se que absorveu muito do racionalismo e objetivismo e acaba sendo denominada como “ensino de arte”. Os professores de arte pautam suas aulas em explicações acerca da arte, sua interpretação e história e não se preocupam com uma educação da sensibilidade.
O desenvolvimento dos sentidos, ou ainda, o estímulo a práticas e experiências sensíveis que envolvam os cinco sentidos corrobora para uma melhor relação estésica com a realidade. Cabe ao professor, que desperta a dimensão sensível nos educandos, a tarefa de ir contra a brutalidade e frieza desse mundo cada vez mais insensível.


A ARTE NA EDUCAÇÃO: CINCO TEMAS PARA REFLEXÃO
1 – Toda nomenclatura guarda um enfoque, uma concepção, uma filosofia, o que aponta para determinada metodologia.
A concepção da arte no ensino curricular apenas como algo específico e como conteúdo cognitivo e não como experiência induz somente a discursos sobre as obras e o fenômeno estético, não proporcionando o contato com ele. Como a arte vem sendo tratada como algo à parte, caberia então trabalhá-la na escola enquanto “educação estética” para torná-la mais efetiva e abrangente em que a experiência estética esteja em primeiro plano e seja base para algum exercício reflexivo posterior.
2 – A identificação da arte-educação com as artes visuais
Vincular a arte à desenhos relacionando a geometria tinha o propósito de “preparar” para trabalhos que serviriam ao mundo do trabalho como desenhos arquitetônicos, por exemplo. A arte então estava conduzindo ao conhecimento racional e útil. A música ainda teve uma abertura maior na escola se comparada à dança e ao teatro. Estes, por utilizarem o corpo como material de trabalho, ficaram de lado por não terem espaço no ambiente cheio de tabus que era o ambiente escolar. Tinha-se a noção de que o corpo não poderia produzir conhecimento e que a corporeidade não poderia ser útil para o desenvolvimento intelectual.
3 – A literatura deve fazer parte também da educação estética
Contos, romances e poemas são utilizados apenas como instrumentos para ensinar gramática e regras de concordância da língua negligencia a possível fruição do conteúdo do texto pelo aluno e não permitem a experiência estética que pode estar no próprio texto.
4 – A apreensão e compreensão da arte pelo corpo como unidade
A experiência estética reverbera no espectador e movimenta nele o seu saber sensível, próprio da corporeidade. O signo estético não tem relação apenas com conceitos abstratos como os matemáticos, e sim com experiências, recordações e o que faz na recuperação de nossas vivências. O signo estético propõe uma vivencia e não apenas uma leitura superficial.
5 – As dimensões da educação estética: experiência, auto expressão e a reflexão
Das três dimensões citadas acima, a mais imprescindível é a da experiência. Como a experiência estética proporciona a apreensão e posterior construção de significados para os signos, ela é fundamental para uma possível auto expressão e para qualquer reflexão.


A MONTANHA E O VIDEOGAME (CORPO E EDUCAÇÃO)
A diferença das gerações, é discrepante no que se refere ao modo como concebem e entendem o próprio corpo. Nos últimos tempos, em meio à telas e outros jogos virtuais, vive-se como se o corpo fosse apenas um objeto físico daquilo que poderia existir tão somente na virtualidade.
A aparência e mobilidade do corpo é fruto de elaborações socioculturais. Essa diferença discrepante nos hábitos das últimas gerações em comparação com as anteriores, denota certa valorização do menor esforço para realizar as tarefas do cotidiano. O corpo do indivíduo passa a não ter grande alcance e fica muito restrito nas suas ações sobre o mundo e desperta questões existências já que o corpo é inadequado ao meio em que vive. “O corpo é uma carga tanto mais penosa de assumir quanto seus usos se atrofiam. ”.
O corpo acaba sendo o culto do espetáculo: tratamentos estéticos cada vez mais plurais e a inserção desses corpos numa sociedade capitalista resulta em indivíduos que não veem o corpo como matéria de sua existência, mas sim como um rascunho de um ideal projetado pela publicidade que está a serviço de grandes corporações que lucram pelo consumo desenfreado.
O período histórico denominado “modernidade” priorizou o saber científico e que substitui tudo que possa ser apreendido através do corpo. Foge-se da materialidade e ruma-se em direção à abstração. A evolução tecnológica e científica mudou substancialmente a concepção de corporeidade. Busca-se o conforto máximo em consonância com o poder aquisitivo do mundo capitalista. O corpo não é instrumento operado por um indivíduo que acredita ser apenas pensamento.
Não é coerente falar-se em uma educação estética desconsiderando a relação que se dá através dos sentidos entre o corpo e o mundo. Uma educação dos sentidos se faz extremamente necessária ao passo que só aumentam os descompassos entre a corporeidade e a vida moderna. Busca-se então, um equilíbrio entre o abstrato e o real.


EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS 
 Rubem Alves


Analisando o ser humano pode-se dizer metaforicamente que no seu viver possui dois grandes universos: o da funcionalidade ou utilidade e o da fruição. Em seu texto, Rubem Alves cria a imagem de que o homem possui uma caixa em cada uma das mãos, uma de ferramentas que contém todo o saber funcional e prático do existir e na outra uma caixa de brinquedos, onde carrega tudo o que tange à fruição, à alegria e, na grande maioria das vezes, tudo o que é dispensável para a sobrevivência.
Para que a ciência do uso das ferramentas não seja em vão, considera-se a capacidade sonhadora do homem. Para que se empreenda o estudo de novas técnicas para se chegar a um novo lugar há uma necessidade, um desejo, um sonho. Logo, pode-se dizer que o conhecimento das ferramentas sem uma utilidade pressupõe uma inteligência flácida, sem vida, sem razão.
Para que exista o sonho, o indivíduo tem que ser seduzido pelo universo que o circunda. É então que o autor introduz a ideia de uma “Educação dos Sentidos”.
* A arte de ver: mais do que simplesmente direcionar o olhar para decodificar imagens, mas ver as coisas como são, não negligenciando as banalidades. Deixar-se ser seduzido pela beleza simples das coisas que só pode ser percebida quando se sabe realmente ver.
* A arte de ouvir: vive-se em uma cultura em que se procura muita clareza na fala e negligencia-se a existência de clareza também no ato de ouvir. Assim como na visão, deve-se aprender a ouvir os sons do mundo, por prazer.
* O tato: como um dos sentidos menos trabalhado, o tato também pode e deve ser fruído de maneira diferente, com o “prazer erótico” em descobrir o mundo não somente vendo e ouvindo, mas tocando.
Sentir algo em contato direto, pelo tato, é uma das experiências mais completas do conhecer aliada aos outros sentidos. O tato é provocado pela visão que produz curiosidade, que incita sonhos.

Marcos Kuszner



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