Relatório de Atividades do Programa Institucional de Bolsa de iniciação à Docência – PIBID – Ano de 2010 e 2011
Lucia Elaine Carvalho Berndt
1
– Apresentando PIBID Humanidades
Este relatório apresenta desde o meu
primeiro dia como bolsista do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID Humanidades, que é uma
ação conjunta do Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de
Educação Superior - SESu, da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior - CAPES e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação -
FNDE, com vistas a fomentar e incentivar a iniciação à docência.
As atividades que estão
descritas neste relatório[1], são dos quatro semestres em
que participei do programa, desde maio de 2010 até dezembro de 2011.
As descrições deste relatório são feitas a partir de anotações feitas no meu caderno
ao longo de minha trajetória como pibidiana e, do qual, fazia questão de
anotá-las sempre.
Desde o princípio
ficou claro para mim que o objetivo do PIBID seria uma preparação para me inserir
no cotidiano de escolas da rede pública de educação,
elevando, antes mesmo do término de minha Licenciatura em Teatro, a
qualidade docente e as minhas práticas acadêmicas.
O objetivo central deste plano de
trabalho é propiciar o aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos teóricos
e vivências práticas experienciados pelos alunos-bolsistas em sua área de
atuação, ou seja, o ensino de arte, mais especificamente o ensino à pedagogia
do teatro (Subprojeto
Teatro Licenciatura, anexo II, edital nº 02/2009 CAPES-DEB).
[...]
desenvolvidas competências e habilidades[2]
não somente no fazer artístico, mas em sua apreciação e contextualização
sócio-histórico-cultural, pretende-se que o licenciado em teatro tenha plena
capacitação para desenvolver atividades nestes três âmbitos (Subprojeto, anexo
II, edital nº 02/2009 CAPES-DEB).
Assim, também as escolas, através das ações
propostas por todos inseridos neste programa, são incentivadas a tornarem-se
protagonistas nos processos formativos dos estudantes de licenciatura,
mobilizando seus professores como co-formadores dos futuros professores,
valorizando também, as ações do magistério, que tem um nível muito alto de
desistência da carreira continuada por não terem apoio financeiro e
reconhecimento social.
Como objetivos
deste subprojeto, também se pode salientar o contato dos licenciandos em teatro
com a realidade escolar e a possível melhoria das condições do ensino de arte
(teatro) no ensino fundamental nestas instituições de ensino público. Uma
relação dialógica deve se estabelecer, propiciando aos alunos-bolsistas espaços
de aprendizagem através das práticas em conjunturas escolares e do contato com
a comunidade escolar, bem como as instituições de ensino público serão
beneficiadas pelas atividades de ensino de arte (fazer, apreciar,
contextualizar), pedagogia do teatro e atividades didático-culturais diversas
propostas por este subprojeto. (anexo II, edital nº 02/2009 CAPES-DEB).
2- A insegurança de
um começo desconhecido
Em maio de 2010 dá-se inicio as
atividades e começo meu trabalho como bolsista para o Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID. Reuniões definiam algumas regras
básicas e bem claras, para nortear nosso trabalho nas atividades de área e
também nas escolas as quais estávamos selecionados para trabalhar
interdisciplinarmente, pontuadas por nossa coordenadora inicial, Taís Ferreira.
Vinte bolsistas reuniam-se para o
estudo do referencial teórico do PIBID Humanidades: Parâmetros Curriculares
Nacionais, os PCNs do terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental[3].
O primeiro semestre apresentou com
algumas dificuldades, pois o grupo, que estava dividido em dois, discutia muito,
mas não com o intuito de aprofundar nas diretrizes dos PCNs e sim, no porque
estávamos estudando-o. Vários colegas achavam uma bobagem, um referencial sem
fundamento de ser estudado, pois era uma utopia, a realidade não era essa e
deveríamos nos atentar para o real, que para alguns destes colegas, seria o
quanto eles mudariam às escolas e os professores que nelas trabalhavam, entrando
diretamente nas escolas, sem informações, sem nenhum contato e experiência
inicial, estes aos quais, justamente, são os objetivos e expectativas que o PIBID
oferece aos bolsistas.
Não
sabia fazê-los entender que nosso referencial teórico, no caso
os PCNs, estava sendo estudado exatamente para ajudar-nos a perceber as
realidades educacionais, que lê-lo seria nosso aporte, nossa âncora, para assim
não criarmos expectativas nenhuma e sim, para quando entrássemos nas escolas
(e/ou nos tornássemos professores) soubéssemos o que iríamos encontrar,
preparados e dispostos a enfrentar problemas, com novas idéias e energias para
isso, acrescentando, através destas experiências como bolsistas do PIBID nas
escolas, novas formas de se ver e se fazer o teatro na educação.
Logo percebi que este problema não
era privilégio do grupo de estudos de área ao qual estava inserida. Na primeira
reunião geral, do segundo semestre de 2010, para ser mais exata, dia 31 de
agosto, segundo os coordenadores, as escolas e os bolsistas teriam que fazer
uma retomada de leitura dos PCNs, para poder construir os planos de ações e os
projetos interdisciplinares de ensino.
Eu e mais três colegas de área
fomos selecionados para atuar disciplinarmente e interdisciplinarmente na
escola Dom João Braga. Lucia, Murilo, Carolina e Hélcio. Este grupo era
coordenado pelo professor da área de Ciências Sociais Francisco Vargas, as
supervisoras da escola, a professora de artes Ana Lacau, a professora de
português Maria José Tortelli Quadrado e a de sociologia e filosofia,
professora Sônia Tissot, mais adiante substituída pelo professor de história Said
Muhammad Soffioni Hasan. Nesta escola somaram-se 26 bolsistas das áreas afins
(humanas): Ciências Sociais, filosofia, história, letras e teatro.
A escola Dom João Braga é uma
escola muito grande, possui 1210 alunos, com ensino médio, fundamental e PEJA à
noite, 66 professores e 33 funcionários e muitas dificuldades aparentes e outras
nem tão aparentes assim. Talvez por se tratar de uma escola muito grande, pude
perceber logo que existia um grave problema de comunicação entre seu quadro
funcional. Enfrentamos, até o final do ano de 2011, problemas de disputas entre
professoras, coordenadoras e diretora da escola, ao qual acabavam atrapalhando,
tanto na demanda das atividades de área ou interdisciplinares como nas nossas
tarefas mais simples e comuns do dia.
Na minha escola de atuação se
concluiu, entre todos diagnósticos feitos por cada área, que o conteúdo
programático era extenso, que falta didática dos professores para ministrar
aulas o que gera falta de interesse dos alunos, existia professores lecionando
em áreas diferentes das suas, a escola não dá subsídios para o trabalho da
disciplina de artes, não disponibilizando materiais para trabalhar, poucos
livros da área, sem atividades culturais extras, dentro ou fora da escola,
poucos eventos promovidos pela escola, sem um projeto pedagógico claro e com
uma biblioteca desorganizada, sem um sistema de consultas e com muitos livros
não devolvidos pelos alunos, ou seja, um local sem nenhum atributo ou atividade
que não seja o seu especificamente além de apenas emprestar livros.
Logo após os
diagnósticos, nossas ações interdisciplinares são debates para uma proposta de
ação pedagógica para atuarmos interdisciplinarmente na escola. Questões que
foram debatidas durante todo o segundo semestre de 2010, dentro das reuniões
realizadas todas as terças no colégio DJB.
O que vai se
problematizar, de que forma e quem vai fazer isso? Quem vai ter participação na
escolha do tema gerador? Os alunos, os pibidianos, os professores devem
participar? Quais critérios serão abordados para se eleger um tema? Para
definir um tema, primeiro tem que se pensar de que forma, ou seja, como e
quando será feita a abordagem aos alunos? Conclusões diversas e primordiais
surgiam, seria imprescindível que todos os professores da escola e seus alunos
participassem desta construção se interando, ao máximo, da e na proposta, no
projeto e também no que é a interdisciplinaridade, tema que gerou muitos
debates e polêmicas mais adiante, por se tratar de ser um tema desconhecido,
com muitas vertentes e também ainda não praticado por ninguém daquela
instituição e também pelos que faziam parte do programa.
Enquanto
debatíamos com o grupo interdisciplinar, o grupo do teatro colocava em prática
um projeto de reativação do grupo de teatro que existiu na escola chamado Uó
Du Borogodó e oficinas começaram a ser oferecidas e ministradas em dois turnos
na escola, para contemplar todos que quisessem participar.
Foi então que na última reunião,
pela pressão do tempo que não se tinha mais, definiu-se o trabalho
interdisciplinar, o grande grupo se dividiu em
quatro subgrupos, com temas geradores cinema, jornal/mídia, teatro, e visitas
guiadas para nortear o trabalho do próximo semestre, construindo então o
projeto com o tema principal Identidades,
Individualidade e Diferenças.
Novamente os pibidianos são
acometidos de uma aflição e sem nenhum contato e experiência
inicial, querem transpor a proposta do programa que é construir
e conhecer todas as etapas, interdisciplinarmente entre os subgrupos, da
construção do projeto em si, para no próximo semestre, de forma tranquila e com
todo planejamento, inclusive do que pode não dar certo, ser colocado em prática
por todos.
Semestre final, os subgrupos foram
colocando em prática seu projeto interdisciplinar com uma mostra de todas as
atividades feitas.
3 – Percepções importantes
Como tudo sempre tem seu
aprendizado, o meu, neste contato inicial como pibidiana foi grande, tanto no
conhecimento adquirido (essencial para me tornar docente) através das leituras
dos parâmetros curriculares nacionais, das leituras e do contato com o trabalho
interdisciplinar, dos espetáculos, seminários e palestras assistidos e do
contato com a realidade escolar. Adquiri um pouco mais de domínio da teoria que
embasa meu saber, conheci mais minha área de atuação e adquiri mais recurso didático-metodológico.
As propostas e
decisões que aconteciam em cada reunião na escola e/ou do grupo disciplinar, foram
muito difíceis de acontecer na íntegra, não existia por parte de alguns colegas
pibidianos e até mesmo do coordenador e supervisores da escola um
comprometimento, tanto em comparecer aos compromissos como em responder a
e-mails, enviar documentos feitos, apresentar seminários propostos, confecção
de materiais para divulgação das atividades, enfim, todo planejamento necessário
para o máximo das tarefas acontecerem e da melhor forma possível. De todas as
dificuldades que envolveram todo o processo, compreendo que a mais difícil foi
o conhecimento, o respeito e a integração entre as pessoas que faziam parte do
programa e por isso o trabalho interdisciplinar foi muito difícil e
infelizmente, a meu ver, quase não ocorreu. Também acredito que estar bem
ciente do projeto pedagógico de uma escola é essencial e primordial para seus
servidores, este se define com as respostas às perguntas: “Quem somos?”, “onde
estamos?”, “para onde vamos?”, como chegar lá?”e como saber se chegamos? Estas
perguntas conduzem a conhecer a identidade que possui a escola e qual seu lugar
no contexto social e cultural.
Durante nossas
atividades de leitura, lemos alguns textos sobre interdisciplinaridade,
contextualização e transposição didática. Tomaz Tadeu, Jairo Gonçalves, Olga
Pombo e Vanessa S. Machado foram os autores sugeridos e estudados e acho
importante transpor aqui, uma parte do resumo que fiz de alguns textos.
Interdisciplinaridade
é falar em interação entre as disciplinas e as áreas do saber, cada uma com
suas particularidades e as novas particularidades advindas desta relação,
transposição didática é a transformação desse conhecimento adquirido ao longo
do estudo docente para um conhecimento prático escolar a ser ensinado,
repassando-os tal qual como a ciência quer dizer, assim essas realidades
passadas para o aluno vão se tornar formas práticas de aplicar esses
conhecimentos, desta forma, real, o aluno vai atentar e ser seduzido para tudo que
o envolve cotidianamente.
Saber que existe
o conhecimento, saber o que fazer com ele, onde aplicá-lo, ter uma infinidade,
mas com afinidade de seus conhecimentos, detectá-los em todos os âmbitos da sua
vida, saber onde estão os problemas para poder solucioná-los, saber onde estão
essas soluções para buscá-las com determinação e responsabilidade, se conhecer,
conhecer o mundo a sua volta, planejá-lo, orientar-se e guiar-se dentro deste
contexto particular, preparando-se para sua vida presente e projetar uma vida
futura com autonomia e determinação, este é o objetivo da
interdisciplinaridade, é interação com o mundo com integração do seu ser.
Percebi que
existem muitos problemas e muitas falhas, em todos os âmbitos do trabalho, nos
grupos, nas escolas, no programa, mas percebi que, principalmente e
primordialmente, as pessoas têm que estar dispostas a transpor os problemas e
tentar enxergar com clareza as falhas, às suas falhas. Para quem soube curtir e
degustar etapa por etapa deste programa, com certeza se sente mais preparado e
capaz de se tornar um docente, mais experiente e seguro do trabalho que estará
prestes a realizar assim que pegar seu diploma.
Quero agradecer ao PIBID e as minhas
coordenadoras, por esta oportunidade única e dizer que disposição e sinceridade
para com nosso trabalho é um atributo que continua sendo, para mim, o andamento
de sucesso para meus objetivos e os objetivos do PIBID, me sinto capacitada para
contextualizar sócio-histórico-culturalmente, de construir significações e
enraizar as informações adquiridas nesse processo, seus problemas e soluções foram
extraídos e colocados em prática, para dar um significado ao conhecimento que
provém de um mundo particular e de uma forma particular. Contextualizar é a
realidade e não o exemplo.
No crescimento pessoal percebi
pontos positivos primordiais para meu trabalho. Assiduidade, pontualidade e
responsabilidade, justamente as regras básicas solicitadas pela coordenadora de
área. A percepção de quando começava a gerar em mim uma necessidade de ser mais
ativa, já querendo participar mais integralmente das próximas atividades, sem
me integrar na atividade do momento, o que já me dava uma sensação de
frustração, aprendi a perceber e a controlar, pois um ciclo (final de um
semestre) estava se fechando para começar outro e tinha que viver e aprender
com cada um intensamente.
Essas percepções me ajudaram a construir
meu aprimoramento pessoal, me tornando mais tolerante com tudo, mais paciente,
tanto com os acontecimentos quanto com as pessoas, conseguindo doar mais
conhecimento de forma que fosse compreendida e sem fazer as tarefas pelos
outros, exigindo menos e compreendendo que cada um tem seus limites, no final,
já olhava e escutava mais do que sugeria.
Referências
EDITAL Nº 02/2009 – CAPES/DEB PROGRAMA
INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA – PIBID, ANEXO II, Detalhamento de SUBPROJETO (Licenciatura),
Pelotas, outubro/novembro de 2009. Revisado em março de 2010, segundo
parecer da CAPES.
BAUMAN, Zigmunt. Identidades. Rio de Janeiro. Zahar,
2005
CARLOS, Jairo Gonçalves. Interdisciplinaridade: O
que é isso? Disponível no site
http://vsites.unb.br/ppgec/dissertacoes.
MACHADO, Vanessa Schieffelbein. INTERDISCIPLINARIDADE. publicado
5/11/2009 em http://www.webartigos.com.
POMBO, Olga. Contribuição para um vocabulário sobre interdisciplinaridade. Disponível
em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/textosdisponiveis.htm.
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares
Nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.
SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença - A perspectiva
dos Estudos Culturais. 9ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
Sites
consultados:
[1] Gostaria de salientar que foi entregue e está disponível
com a coordenadora Taís Ferreira um relatório final, reunindo todas as
atividades dos dois semestres iniciais, também relatórios diversos postados no
blog do programa: http://pibidteatroufpel.blogspot.com
e relatório interdisciplinar e dos subgrupos disponíveis com a Vera Santos Schwarz.
[2]
Conforme aula ministrada pela coordenadora Taís Ferreira em 22 de Set. de 2010:
Competência é um conjunto de conhecimentos, saberes, habilidades, saber-fazer
relacionado à prática do trabalho mental, atitudes de cooperação,
solidariedade, participação, ética. Habilidades: Associadas ao saber fazer:
ação física ou mental que indica a capacidade adquirida
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