Sobre o Projeto

O Programa Interinstitucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID) é um programa do MEC, fomentado pela CAPES para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica. Na UFPel, desde 2010, o curso de Teatro está participando, juntamente com os demais cursos de licenciatura. Atualmente somos um grupo de 12 alun@s do curso de Teatro - Licenciatura da UFPel, bolsistas do PIBID - CAPES/MEC. Desenvolvemos ações específicas da área de teatro e projetos educacionais interdisciplinares, no momento, atuando em quatro escolas públicas parceiras do programa, em Pelotas/RS, orientados pelas professoras/es supervisoras/es das escolas e pelos coordenadores de área.

Hélcio Fernandes


 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA
TEATRO LICENCIATURA
HÉLCIO FERNANDES BARBOSA JÚNIOR

            Este relatório disserta sobre as ações desenvolvidas no PIBID teatro UFPel durante esses quase dois anos de atividades. Torna-se difícil a seleção do que relatar, levando em consideração as muitas experiências vividas durante esse tempo de aprendizado, conhecimento e, principalmente, troca de ideias com colegas das mais variadas áreas envolvidas.
            No início a ideia de interdisciplinaridade, foco principal do PIBID em nossa instituição, ainda era um enigma a ser decifrado. Mas com o passar do tempo e o fortalecimento das relações, algumas de parceria bem sólidas e outras de muito pouca identificação, o projeto tornou-se algo mais concreto e as propostas de trabalho começaram a ser pensadas e a tomar forma.
            Começo pelo “Teatrando no PIBID”, a “menina dos meus olhos”. Uma ação da área de teatro, transformado posteriormente em um projeto de extensão, cujo objetivo era proporcionar às demais áreas envolvidas uma breve experiência, ou experimentação, do que seria uma prática teatral. Saímos do âmbito da teoria e da apreciação teatral, o que era mais comum entre os participantes, para envolvê-los na ação teatral em si. Esse interesse em proporcionar a prática do teatro se reforça com as palavras de Gilberto Icle com relação a uma de suas experiências, que nos diz que:

Ao conhecer o LUME, vi que aquele era o trabalho pelo qual me interessava e a que poderia me dedicar. Mais uma vez, através do fazer teatral, pois foi participando de suas oficinas e não assistindo seus espetáculos, compreendi o que significava fazer teatro. (ICLE, 2002, p. 20).

Um trabalho que tivesse como objetivo mostrar uma peça de teatro, ou estudar um texto, ou até mesmo a história do teatro – não que essas práticas não estivessem programadas no projeto – não possibilitaria a sensação de estar em contato direto com o fazer teatral. Através dessas oficinas conseguimos mostrar as demais áreas que o teatro nas escolas não serve, e nem deve ser visto, como mero entretenimento ou recreação, como muitas pessoas acreditam ser, mas sim, que possui fundamentação e objetivos bem específicos que podem ser trabalhados para a construção dos sujeitos dentro da comunidade escolar. Os exercícios eram selecionados de forma a tornar o mais próximo possível os participantes do que acontece não em uma montagem de espetáculo, mas sim, da preparação do material humano para a realização da prática teatral, o corpo e a voz dos atores, traçando a todo o momento um paralelo ao corpo e a voz dos professores. Nossos objetivos, ao final do projeto foram alcançados, os participantes saíram com um conhecimento um pouco maior de suas possibilidades corpóreo-vocais, e ainda, com a sensação e divertimento que o teatro possibilita. Essa constatação foi obtida através dos memoriais descritivos[1], que eram realizados ao final de cada oficina.
            Através do “Teatrando no PIBID” pode-se observar o princípio de um trabalho interdisciplinar. Todos ali tínhamos um objetivo em comum, que era a construção de conhecimento sobre nós mesmos, de como e o que pensávamos de nossas áreas e da área do colega. Não há como desenvolver um projeto interdisciplinar sem que haja interação dos envolvidos. A troca entre as áreas praticamente não existe nas escolas públicas Brasileiras, pois os professores estão abarrotados de trabalho com dezenas de turmas que tem que dar conta, e não sobra tempo algum para essa interação.
Ao final das oficinas, sempre ministradas aos sábados, nos reuníamos em roda e discutíamos sobre os exercícios teatrais realizados e também sobre a escola nos dias de hoje, refletindo principalmente, sobre como o PIBID pode ajudar a amenizar as dificuldades enfrentadas pelos professores das escolas públicas. Esses encontros serviam também para que nós, futuros professores, e alguns já atuantes na área, - além dos Pibidianos, tínhamos no projeto alunos de outros cursos da universidade e não participantes do PIBID, e também, professores da rede pública de ensino e comunidade em geral – tivéssemos um incentivo, um apoio através dos colegas, que como muitos licenciandos sentem-se desmotivados a ir para a sala de aula após um real contato com essa dura realidade.
            O “Teatrando no PIBID” foi uma ação da área de teatro que muito colaborou com a formação e informação dos discentes envolvidos. Podemos trocar experiências e, além disso, mostrar que o teatro pode ser utilizado pelas demais áreas como instrumento pedagógico dentro de suas especificidades. Não estou de maneira alguma dizendo que professores de outras disciplinas devam dar aulas de teatro, pois para isso existem profissionais habilitados em teatro, mas sim, utilizá-lo dentro das suas disciplinas, como instrumentos pedagógicos. A proposta inicial se cumpre no momento em que percebemos que os corpos/vozes possuem outras possibilidades além das já conhecidas, e que o professor é de certa forma, um personagem em cena, que fala para uma platéia que precisa estar atenta as suas colocações.
            Outro grande momento do PIBID foi o trabalho realizado no colégio Dom João Braga. Com um grupo de oito bolsistas do projeto que compunham cinco áreas do conhecimento diferentes – Letras, Ciências Sociais, Filosofia, História e Teatro –, desenvolvemos um trabalho em que a principal ferramenta para sua execução era o teatro.
            As primeiras reuniões foram com certeza as de maior aprendizado e comunhão entre os participantes. Compreender o que os alunos da Filosofia, Letras, Ciências Sociais e História discutem em suas áreas sobre a educação no Brasil, de como esse caos em que nos encontramos precisa ser pelo menos diminuído e que existem pessoas que realmente se preocupam com isso, foi extremamente motivador para lutar contra esse sistema engessado e muito pouco eficaz, no âmbito da educação, que se encontram nossas escolas públicas.
            Depois de muitas discussões chegamos ao formato que mais nos aproximava dos nossos objetivos, o Teatro Fórum, técnica desenvolvida pelo Brasileiro Augusto Boal que quebra a barreira entre atores e espectadores, e torna todos os presentes responsáveis pelos seus atos, instigando a sociedade a tomar posições, a se envolver com as situações de opressão que os rodeiam, os chamados espect-atores.
            Antes de entrar nos méritos do teatro fórum, gostaria de trazer uma frase de Bertolt Brecht que traduz exatamente o pensamento que norteou essa prática no Colégio Dom João Braga: “Então o espectador fará mais do que olhar. Terá um papel ativo. Em um teatro que será então seu poderá ter prazer e divertir-se (...) aqui ele se produz da forma mais prazerosa; pois a forma mais prazerosa da existência está na arte”. (KOUDELA, 2007, p. 171). Com essa constatação, além de sustentar a eficácia do Teatro Fórum, ainda podemos reafirmar a importância do teatro na escola, pois ensina de forma prazerosa, divertida e não menos comprometida.
            Ouvir os alunos do Colégio Dom João Braga, esse foi o grande mérito do trabalho realizado. Trabalhamos em três eixos norteadores: Violência contra a mulher, relação de opressão entre professores e alunos (de ambas as partes e inclusive de alunos para alunos) e racismo. Entender que o aluno tem muito a dizer e que a escola, talvez pela sua configuração atual, o descaso com que o professor é tratado pelos governos, a não participação ativa das famílias, o próprio espaço físico que mais parece uma prisão, não propicia tal relação de colaboração e escuta entre os seus envolvidos.
            Após a realização desse trabalho, compreendemos que não só no teatro devemos ser sinceros com nós mesmos, fazer de verdade, como foi dito em muitas oficinas, mas que devemos ser sinceros sempre, como dito por um dos participantes durante as oficinas de preparação das ações.
Como atividade da área de teatro inserida no Colégio Dom João Braga, foram propostas algumas oficinas de teatro que envolviam trabalhos de corpo, voz, improvisações e algumas outras noções básicas de teatro. A finalidade dessa ação era reativar o antigo grupo de teatro da escola Chamado NORMA ROCHEDO, por um tempo também chamado de “Grupo Uó Du Borogodó”, dando-lhes subsídios pra que após o PIBID sair da escola, os alunos continuassem ministrando as oficinas e dirigindo o grupo.
            A participação em eventos foi outro fator que proporcionou uma maior compreensão dos territórios em que estamos pisando, a educação e o teatro. No 22º Seminário Nacional de Arte e Educação em Montenegro, primeiro evento relevante que lembro ter participado como comunicador e apresentador de um pôster, pude observar o quanto se tem pensado em relação à arte-educação, pois lá, conheci alguns professores da rede pública que relataram a real eficácia de alguns projetos pensados para um melhor ensino público, que esperamos um dia ser de alta qualidade.
            O II Encontro Interinstitucional PIBID e III Encontro Institucional PIBID promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, realizado em Porto Alegre, foi um momento de conhecimento da organização e ações desenvolvidas pelas outras instituições que desenvolvem o PIBID. Ali podemos falar sobre o projeto de interdisciplinaridade desenvolvido na UFPel, e também compartilhar essa experiência com os demais, uma vez que o único PIBID que trabalhava até aquele momento com essa proposta metodológica era o da UFPel.
            Participamos também do Seminário Ensino de Arte, Educação e Práticas Pedagógicas Re-formar ou Trans-formar na UFPel, onde através dos relatos das ações desenvolvidas podemos apresentar para a comunidade da instituição o projeto e como estava sendo sua realização, tanto em um âmbito geral, como sua forma de organização, as atividades em cada escola envolvida no projeto, nossos objetivos e etc. Foi um momento muito importante e, mais uma vez, de grande troca, pois ali ouvimos o que outros alunos de outras áreas, algumas não envolvidas com o projeto, tem a dizer sobre o PIBID na UFPel.
            O I Encontro PIBID-UFPel: Identidades no contexto escolar, foi o grande momento do Pibid II Humanidades em minha opinião, ali sim, podemos de forma muito tranquila e segura debater sobre nossas ações, deslocando nosso olhar não só para os projetos em que estávamos mais envolvidos, mas também, compreender um pouco as metodologias desenvolvidas pelos colegas. Nesse evento ouve um fator muito significativo, pois havia alunos que participaram do Pibid I, anterior ao nosso, e os alunos recém chegados do Pibid III, que estão ainda em iniciação dos seus projetos. Essa comunhão entre alunos, professores, coordenadores e supervisores, sem a tão marcada hierarquia traz uma sensação que no momento em que as pessoas se ouvem e tentam compreender umas as outras, não de maneira imposta, que a educação Brasileira tem sim uma solução, mas é necessário ainda que haja também boa vontade e colaboração de todos.
            Concluo esse relatório salientando minha grande satisfação de ter participado de um projeto tão grande e que me trouxe muito conhecimento sobre o sistema educacional, sobre a escola, o acesso a documentos importantes dentro da educação como os PCNs, e a satisfação de ter encontrado muita gente responsável e dedicada a essa profissão tão massacrada nos dias de hoje, os professores.
            O PIBID veio de encontro a um sistema de opressão, desmotivação e ineficácia, que é o da atual educação Brasileira. O encontro desse sistema já há muito tempo desgastado com o dos novos professores, ainda licenciandos, que entrarão na rede de ensino em breve, pode ser o princípio de uma nova escola, ou de se pensar sobre a mesma, que só veremos daqui a alguns anos, quando o resultado efetivo das ações desenvolvidas se tornará uma realidade.
Jamais entraria em um projeto no qual não acreditasse, e acredito sinceramente ter dado sempre o meu máximo junto ao PIBID, e principalmente ao Colégio Dom João Braga, sobre o qual desenvolvi um carinho muito especial, pela instituição e por muitos dos ali envolvidos. Espero que os próximos pibidianos que nos sucederão desenvolvam trabalhos cada vez mais ricos em detalhes e também com pessoas mais dedicadas e envolvidas com o projeto. Hoje tenho certeza que o teatro tem um lugar na escola. Com profissionais habilitados e comprometidos em desenvolver um trabalho honroso e que colabore com a educação de muitos Brasileiros.

Referências:

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
ICLE, Gilberto. Teatro e construção de conhecimento. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Brecht: Um jogo de aprendizagem. São Paulo: perspectiva, 2007.


[1] Ao final de cada oficina os participantes recebiam um papel e uma caneta pra que ali registrassem suas impressões, tanto positivas quanto negativas, em relação ao trabalho realizado. Era permitido que essas impressões fossem descritas através de palavras, desenhos, rabiscos e qualquer outra forma de registro que o participante quisesse. A esse procedimento chamávamos Memorial Descritivo.



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