Relatório Individual Final
Acadêmica: Graziele Soares de
Barros
Interdisciplinar
Este relatório apresenta uma das
experiências interdisciplinares pibidianas da área de Teatro, desenvolvida ao
longo de três semestres em uma das escolas participantes do PIBID-II- Humanidades
da Universidade Federal de Pelotas. Essas práticas foram baseadas nos parâmetros
pré-estabelecidos do programa, e contou com a interação dos cursos de
Licenciatura em: Letras, História, Ciências Sociais, Filosofia e Teatro.
Os pibidianos começaram a ter
contato com a escola em Junho de 2010, quando tiveram sua primeira reunião dentro
da escola. A princípio eu desenvolveria meu
projeto na Escola Nossa Senhora de Lurdes, mas devido à grande demanda vinda do
Instituto Educacional Estadual Assis Brasil (IEEAB) fui encaminhada para
atender parte essa demanda.
O desenvolvimento do projeto
interdisciplinar se dividiu em quatro etapas: primeiramente nos conhecemos
enquanto áreas de conhecimento; depois estudamos possibilidades de interação
entre as cinco licenciaturas; enfim colocamos no papel nossas impressões e possíveis
atividades que pudessem gerar conhecimento interdisciplinar; e por último,
passamos para a prática desse projeto. É válido ressaltar que todas estas
etapas foram concomitantes aos estudos feitos sobre interdisciplinaridade e
outras teorias que poderiam auxiliar nessa prática.
Na primeira parte da elaboração do
projeto interdisciplinar nós pibidianos que trabalharíamos juntos, conhecemos e
apresentamos nossas áreas uns para os outros. Para isso elaboramos um
diagnóstico da escola, nada mais do que um estudo sobre o que se faz e o que se
aprende sobre Teatro e sobre todas as áreas das Artes dentro do ambiente
escolar. Essa etapa foi bastante interessante para darmos o primeiro passo,
pois proporcionou aos estudantes conhecer a escola segundo o olhar de nossa
área, e depois com as apresentações, sob o olhar das outras áreas.
No IEEAB o passo seguinte foi
fazermos reuniões temáticas, onde cada área trazia parte do seu conteúdo ou
conhecimento para dividir uns com os outros. A princípio tínhamos a ideia de
todos os pibidianos de determinada área fazer uma apresentação de uma hora mais
ou menos falando sobre alguma matéria que ao seu ver poderia contribuir para a
interdisciplinaridade. Isso funcionou até o final do ano de 2010, mas quando
retornamos em 2011 sentimos a necessidade de nos dividirmos em grupos com um
tema só, por exemplo, Mito. Cada
pibidiano traria pra reunião o Mito
segundo sua área de conhecimento, e assim fizemos reuniões multidisciplinares,
em que cada um dentro da sua “casa” conheceria a “casa” do outro.
Passadas algumas reuniões
multidisciplinares nos demos conta de que precisávamos partir para mais uma
etapa, a interdisciplinaridade finalmente. Desse modo, nos dividimos em grupos
com um representante de cada área para elaboração de um subprojeto
interdisciplinar. Para tanto, baseados nos depoimentos dos professores e
funcionários da escola e também da nossa experiência escolar até então, escolhemos
uma temática central que perpassaria por todos os subprojetos: Direitos
Humanos. Dentro desse grande área foram escolhidos 5 eixos: liberdade de
expressão, diversidade humana, patrimônio escolar, bullying e direito à memória
dos grupos oprimidos, sendo este último o subprojeto do qual fiz parte.
Para a elaboração do meu subprojeto
cada uma de nós pibidianas fomos buscar na nossa área o que poderia contribuir
para isso. Debulhando o título que escolhemos (direito à memória dos grupos
oprimidos) cheguei até Paulo Freire e Augusto Boal. Escolhi o livro Pedagogia
do Oprimido de Paulo Freire para embasar minha contribuição para o subprojeto.
Segundo Freire (1987) a sociedade atual está baseada em uma educação opressora,
que se trata no domínio dos pensamentos dos oprimidos, fazendo com que estes
busquem ser como os opressores. Uma via de escape para esta educação,
encontrada por Freire, é a Pedagogia do Oprimido. Segundo esta os oprimidos
devem se conscientizar de sua classe, e a partir disso, tentar mudar esse paradigma,
com base num pensamento crítico e autonomia, para que não caia no mesmo ciclo
anterior (oprimir o opressor). Focamo-nos em apenas quatro grupos oprimidos:
mulheres, homossexuais, afro-brasileiros e população socialmente vulnerável,
pois estes grupos ainda se encontram em um quadro de invisibilidade histórica.
Depois de elaborado o referencial teórico fomos buscar formas dinâmicas de
colocar na prática o que estudamos. Escolhemos oficinas de teatro, de música,
de vídeo, para despertar maior interesse por parte dos alunos.
Desta forma no segundo semestre de
2011 começamos a colocar em prática o que por tanto tempo estivemos estudando. Ao
longo do semestre encontramos algumas dúvidas que são comuns na prática docente,
e assim tivemos que adaptarmos nossa estratégia de ensino. Um exemplo dessa
adaptação foi quando resolvemos não trabalhar com uma das turmas que havíamos
proposto no início, isso porque era uma turma que estava para se formar no magistério
e priorizavam atividades relativas a sua formação. Outro momento em que paramos
para repensar nossas práticas foi quando deparamos com atitudes preconceituosas
dentre os alunos que participavam de nossas atividades. Foi um momento delicado
em que refletimos sobre como deveríamos proceder para desconstruir essas ideias
opressoras que já estão intrinsecamente “plantadas” dentro de nossa sociedade.
Ao final de 2011 chegamos à
conclusão de que todo nosso estudo e prática até ali tinha sido de grande
valia, principalmente para nós pibidianos, enquanto formação docente, mas
também para os estudantes que foram atingidos pelo projeto e para todos que
foram envolvidos nessa tentativa interdisciplinar. Notamos também que atividades
interativas, que dão mais voz ao estudante, como por exemplo, teatro e música,
são bem aceitas pelos mesmos e fazem com que eles construam o conhecimento
junto conosco, educandos. Para a escola fica a experiência de uma maneira,
dentre tantas outras, para trabalhar os Direitos Humanos e a interdisciplinaridade.
Espero que esse trabalho possa servir de incentivo para que outros se construam,
não somente no IEEAB como em outras escolas.
Área
Começo a pensar minha área de
atuação com a seguinte dúvida: O que o
teatro tem para contribuir com o ambiente escolar? Desde que entrei no
PIBID essa dúvida era latente em minha mente, e foi apenas estudando muito e
aplicando na prática o que vinha estudando é que pude, talvez, responder tal
dúvida.
Nossas práticas pibidianas no
teatro iniciaram no mês de maio de 2010, quando tivemos a tarefa de formarmos
grupos de estudos para compreender o que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s)
reservavam para a área de Teatro. Depois disso partimos para o estudo de nossa
área dentro da escola, o que chamamos de diagnóstico das artes. Por fim
iniciamos uma série de projetos que poderiam contribuir com a escola, em todos
os seus âmbitos.
Dentre tais projetos destaco os que
participei: oficinas de teatro para alunos do ensino médio e magistério;
formação de espectador; e a hora do conto. Aliado a estes projetos levei o
PIBID junto com meus colegas pibidianos para alguns encontros e seminários,
onde pude afirmar mais uma vez para mim mesma e para outros a importância desse
programa. Além disso, alguns desses projetos me levaram a desenvolver outras
reflexões acerca do teatro e a escola, como por exemplo, a importância do
lúdico e da expressão corporal no aprendizado da criança, de forma a deixa-lo
suficientemente livre para construir o seu conhecimento.
O primeiro semestre de atividades
começou de forma lenta, porém necessária. O estudo dos PCN’s nos levou a um
parâmetro de como seria a escola “ideal”, na qual o ensino de teatro também era
bastante idealizado. Não foi difícil observarmos que o que estava no papel não
condizia com a realidade escolar, de acordo com nossas experiências anteriores
como estudantes, por exemplo, os PCN’s idealizam uma “recepção artística” pelos
alunos, que não ocorre na prática, algumas vezes pela falta de vontade ou de
conhecimento específico sobre o tema por parte dos professores, mas outras vezes
por falta de recursos.
Após o estudo da teoria, passamos
então para o estudo da prática, ou seja, como o teatro e as subáreas da Arte
eram compreendidas e passadas dentro do ambiente escolar. Na escola Nossa
Senhora de Lourdes, onde eu auxiliei na elaboração do diagnóstico das artes, a
vontade de fazer com que as áreas da Arte fossem postas em prática existia por
parte de alguns docentes. Quando os alunos foram consultados para saber se
havia interesse por projetos extraclasse ligados a área de teatro, dança,
música ou artes visuais a resposta, na maioria das vezes, era positiva, mas
quando os projetos eram colocados em prática, o número de alunos que
frequentavam e realmente se interessavam pelos projetos, era muito pequeno.
Dentro de sala de aula não era
muito diferente, os alunos não estavam interessados nas atividades da
disciplina de educação artística, que em sua maioria se concentrava na área das
artes visuais. Amparando essa prática de aula, estava um Projeto Pedagógico
sintético e genérico, em que qualquer profissional poderia dar aulas sobre
qualquer coisa relacionada ao senso estético.
Após esse período passamos a
estudar possibilidades de colocarmos em prática alguns pequenos projetos relacionados
ao teatro nas escolas. O primeiro deles que eu participei e que foi posto em
prática, foi á formação de espectadores. Esse foi um dos projetos que eu mais
me interessei, pois não se tratava apenas de levar arte para quem ainda não
conhece, mas também educar esses futuros espectadores para a recepção
artística. Para tanto fizemos cartilhas educativas e distribuímos dentro das
escolas que participavam do PIBID e que receberiam tais atrações, como: a peça
“E o Gato não comeu...”; espetáculo de dança-teatro “Tatá dança Simões”; e
também o Quinteto Guitarreria.
No finalzinho do segundo semestre de
2010 ainda tive tempo de proporcionar algumas oficinas de teatro para alunos do
Ensino Médio e Magistério no turno inverso no Instituto Educacional Estadual
Assis Brasil (IEEAB). Foi um curto período, porém de grande importância para
minha formação enquanto educadora, pois esta foi a primeira vez que ministrei
uma oficina de teatro, ainda que com a ajuda de outra pibidiana do teatro.
No primeiro semestre de 2011 comecei
uma nova atividade na área de teatro no IEEAB juntamente com outra colega
pibidiana do teatro: A hora do conto. Elaboramos essa atividade pensando na
necessidade que as crianças têm de desenvolver seu imaginário, seu saber sensível (DUARTE JR., 2006),
sensorial, além de oferecer outra proposta de trabalho que utilize da disciplina (FOUCAULT, 2007) de maneira
menos “nociva” para o desenvolvimento do aluno. Utilizamos técnicas e
conhecimentos acerca dos princípios da arte teatral juntamente com histórias e
contos que fizessem com que a criança pudesse se sentir mais livre para se
expressar.
Começamos o projeto somente com as
turmas de quarto ano do fundamental. Foi um semestre repleto de aprendizado,
tanto para nós pibidianas como também para os alunos. Vivemos na prática
pequenos problemas naturais do dia-a-dia escolar e aprendemos a convertê-los em
aprendizado, como por exemplo a falta de comunicação entre professores e
coordenadores, ou mesmo a falta de vontade de alguns alunos em conhecer essa
nova maneira de aprender, mas isso fez parte de alguns poucos momentos.
Fechamos o semestre com um saldo positivo, percebemos algumas pequenas mudanças
no comportamento das crianças, pois estavam mais à vontade para trabalhar o
lúdico. Também as professoras das turmas que trabalhamos nos passaram que
gostariam que a atividade se continuasse, pois entenderam a sua necessidade
para o dia-a-dia de seus alunos.
No segundo semestre conversamos com
a coordenação e resolvemos continuar o projeto somente com as turmas de quinto
ano. A princípio continuaríamos com a mesma metodologia, apenas adequando a
faixa etária das crianças, e nos propusemos a exercer um diálogo mais contínuo
com a coordenação. Com o passar do semestre foram aparecendo empecilhos que não
nos permitiram fechar o ano com a atividade. Uma parte dos alunos se colocava
contra o fato de nós pibidianas fazermos o papel de suas professoras, posto que
quem nos acompanhava não era a professora titular, e sim uma professora que
cuidava da biblioteca. Outra mudança deste semestre para o anterior foi o fato
de fazermos atividades mais interativas com o intuito de canalizar a energia
que parecia abundante nos alunos. Infelizmente esse projeto foi interrompido
pela coordenação da escola, pois segundo eles, nós não conseguimos seduzir os
alunos com as atividades que estávamos propondo. Mesmo assim, esse foi um
semestre de intenso aprendizado, pois muito do que estudamos sobre didática e
sobre educação, nem sempre funciona na prática e é dessa forma, tentando e recriando algumas teorias, que conseguimos alcançar
algum êxito.
A minha passagem pelo PIBID foi o
momento mais importante da minha formação docente até agora, pois a experiência
de estudar e praticar ao mesmo tempo é única e nenhum (a) professor (a), por
mais competente que fosse, poderia me passar isso em sala de aula apenas. A minha
dúvida inicial possui diversas respostas e aliada a ela apresentam-se uma série
de outros questionamentos que sempre irão surgir durante minha prática docente,
pois essa prática será um aprendizado, para mim e meus alunos, do contrário não
será válido. Conforme Freire (1996, p.23)
“Não há docência sem discência, as
duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se
reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e
quem aprende ensina ao aprender.”
Bibliografia:
DUARTE JR., João Francisco. O sentido dos sentidos. A educação (do)
sensível. 4 ed. Curitiba: Criar Edições Ltda.,2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 42 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29
ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir:
nascimento da prisão. 33 ed. São Paulo: Vozes, 2007.
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